Não é prazer meu que isto se mantenha. Desço para o pequeno almoço, que não está preparado, sem razão para o tomar. Penso em sair de casa, e num Domingo, não tenho nada para me justificar. Não te tenho para justificar. Daí não ter uma vontade especial em sair. Em contrapartida, o tempo chama-me lá para fora.
Este seria um dia dos nossos, e não um dia em que qualquer coisa me passa despercebida, e não tem o mesmo significado. Subo as escadas de novo... Pego na maquina fotográfica e faço dela o meu proposito. É o que quero fazer deste dia, fotografá-lo e espalhá-lo por minha casa, não me quero esquecer do quanto me sinto desmotivada, ou perdida, quando não estás. Não nego a irritação que sinto, ou a vontade de te mandar embora para sempre para nunca mais teres hipotese de me magoar. Como tens vindo a fazer, sempre... O que me chateia realmente é teres sucesso... E eu não. Passar despercebida no meio de tantas coisas.
Não foi isto que eu idealizei. Não foi nada disto que eu quis... há muito tempo. O que eu queria era diferente... E queria poder mudar. Mas já não ha grande esperança a esse nivel. Não para hoje, ou amanha, ou depois. Não para nunca, talvez. Saio para a rua, passam carros... Nada disto tem interesse. Recuso-me ir para proximo de ti, onde existem sempre as melhores paisagens, mesmo quando são terriveis, ou banais. Passeio nos autocarros moribundos da cidade, cheios de sujidade, pessoas feias e desprovida de felicidade... Parecem clones de vidas que passaram sem eles darem conta. E secalhar, sou eu. Tenho 80 anos, e a minha época aurea ja passou. Fui bonita, fui elegante, conduzia plenamente, andava, corria... nada me era impossivel. Hoje os meus olhos estão baços, e os meus oculos não deixam passar as cores dos meus 17 anos... Já não sou elegante, e as mãos pouco precisas já não me ajudam aos passatempos de outrora. O pior... são as memórias turvas. Gostava de me lembrar de pormenores, de coisas bonitas... Mas perdi-as a todas. Quase todas. Tudo são fragmentos... Menos aquele domingo em que sai sozinha para fotografar. Guardei-as, sempre. Para nunca me esquecer, e nunca me esqueci. Nem mesmo depois de ficar sozinha, e já não querer lembrar-me...
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